Moradores das margens do rio Guandu, na Baixada, fazem ligações clandestinas enquanto esgoto é jogado in natura nas lagoas dos pontos de captação da estação de tratamento da Cedae
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Lucinha e Rosângela conversam
com moradores de Cerâmica
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A rotina sacrificante e o dia a dia clandestino da população que vive às margens do rio Guandu para ter água potável. Este foi o cenário encontrado pelos integrantes da Comissão de Saneamento Ambiental da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) em uma vistoria realizada na manhã desta segunda-feira (04/04) em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “A situação na Baixada é caótica. Sofre o rio Guandu, que recebe uma quantidade absurda de água poluída porque não existe estação de tratamento do esgoto nas cidades onde ele passa; sofre a população, que convive com a falta do sistema de abastecimento de água e rede de esgoto. Não podemos aceitar que a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) invista na Zona Sul e Barra da Tijuca/Jacarepaguá e esqueça desta região”, assinalou a vice-presidente da Comissão, deputada estadual Lucinha (PSDB).
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A beleza do rio Guandu vista
do Parque Todos os | Santos |
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O rio Guandu é responsável por 80% do abastecimento de água da Região Metropolitana, mas para os moradores ribeirinhos somente os olhos ficam cheios, mas pela beleza do lugar, porque as torneiras das casas estão sempre vazias. No Parque de Todos os Santos, bairro iguaçuano onde fica um dos pontos de captação da Estação de Tratamento de Água (ETA – Guandu) da Cedae, a situação é crítica. De acordo com os moradores, há mais de dez anos sete das 17 ruas do lugar ganharam obras de saneamento de água e esgoto, só que o sistema nunca funcionou. “O esgoto é jogado no rio Guandu. A água que chega nas casas não é legalizada e mesmo assim é tão fraquinha que se todas as casas abrirem as torneiras ao mesmo tempo não sai nada”, disse Marlice da Conceição Cunha, auxiliar administrativa no PSF do bairro.
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O diretor de escola Leandro paga contas altas à Cedae,
mas também compra água do carro-pipa |
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Na passagem pelo bairro Grão Pará, os integrantes da Comissão da Alerj encontraram um canteiro de obras que está parado há quatro meses por falta de liberação de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. De acordo com duas placas em frente ao local, seriam realizados serviços urbanos de água e esgoto para trazer melhorias no fornecimento de água. Num total de R$ 43 milhões, as obras beneficiariam cerca de 100 mil pessoas dos bairros Prados Verdes, Grão Pará, JK, Miguel Couto e Jardim Esplanada. Ter água diariamente nas torneiras é o desejo dos diretores das setes escolas que funcionam no Grão Pará. De acordo com Leandro Pinheiro, do Centro Educacional Pinheiros, mesmo pagando em dia as contas de água do seu colégio, o fornecimento é irregular. “Mês passado pagamos cerca de R$ 1.600,00 reais de conta da Cedae e ainda assim tivemos que comprar dois carros-pipa d´água”, informou.
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Selma pega água potável no meio da rua | | em Cerâmica |
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Em outro extremo do município o cenário também é desolador. Selma Santos, moradora da Rua Lobato Júnior, no bairro Cerâmica, pedala cinco minutos em uma estrada sem calçamento para buscar água potável no meio da rua literalmente. “Esse é o único jeito de conseguir água para beber porque lá em casa só tem água de poço que a gente usa para tomar banho, cozinhar, lavar roupa”, disse a vendedora, que vive com o filho de seis anos, os pais dela e dois irmãos. Pelo menos duas vezes ao dia Selma - e boa parte da população da região - enche suas garrafas na esquina da Rua Manoel Batista, onde os próprios moradores fizeram uma ligação clandestina que puxa água do rio Gandu para abastecer as casas mais próximas, e para quem vive mais distante uma bica fica disponível. O que é pior, ao lado de uma lixeira.
“É uma aberração. Nós temos que exigir racionalidade, não pode faltar água para a população já que estamos ao lado da Estação de Tratamento do Guandu, considerada a maior da América Latina. Em volta dela vemos esta situação de abandono”, informou a presidente da Comissão de Saneamento, deputada Aspásia Camargo (PV). Para ela, a poluição do rio Guandu, causada pelos rios da Baixada, é um outro grande problema. “É preciso jogar muita água limpa para melhorar a qualidade da água que é captada pela estação de tratamento. Poderia estar abastecendo milhares de casas”, denunciou Aspásia. Também participaram da vistoria a Nova Iguaçu os deputados Waguinho (PRTB), Rosângela Gomes (PR), André Ceciliano (PV) e assessores técnicos do deputado Comte Bittencourt.
Esta foi a terceira vistoria realizada pela Comissão de Saneamento da Alerj, que pretende visitar ainda os municípios de São João de Meriti e Nilópolis. Os resultados do estudo realizado pela Comissão serão apresentados às prefeituras em um seminário na Baixada Fluminense, prevista para o dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente.
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